Sou gaucho, colorado, nascido em Inhacorá-RS, na época, 23 de janeiro de 1970, localidade de Catuípe - RS, hoje cidade. Meus pais Olintho e Teresa Strada, já com mais 4 filhos, e depois ainda veio minha irmã casula, era agricultores, trabalhavam de linderos, peões e colonos. Lutavam arduamente para nossa sobrevivência, plantando produtos de subsistência, como arroz, feijão, trigo, milho, mandioca e outros. A vida era dificil naqueles idos e manter-se na terra era um grande desafio. Fora a época de maior êxodo rural registrado no Brasil. A mecanização, a ditadura militar, a falta de oportunidade de financiamentos e a promesa de vida nova, vida melhor e mais fácil, na cidade; tomava conta da cabeça das pessoas da roça. Levando-as a largar tudo e seguir em busca de trabalho (ainda que sem qualificação) nos centros maiores.
Neste pensar, mas sobretudo, com o sonho de minha mãe, de poder dar estudo para os filhos, fomos levados a morar em Santo Augusto - RS, isto em 1975. Meu pai, sem as habilidades para o trabalho da cidade, logo buscou no álcool, um refugio, uma válvula de escape, a qual muitos colonos encontraram para apagar as mágoas da lembrança dos dias felizes vividos em seu lugar. As promessas de vida melhor se tornavam pesadelos, meus irmãos, em idade de fazer o antigo segundo grau, tinham que trabalhar para sobreviver.
Minha mãe, conseguiu emprego de doméstica, tendo que deixar o lar, os filhos e os próprios afazeres, para ganhar a vida, lutar para que o sonho de ver seus filhos formados, não fosse em vão.
Como se algo dissesse em seu interior: "o estudo vai ser o futuro", labutou dias dificeis, muitas vezes quase perdendo as esperanças, principalmente ao ver meu pai se acabando no alcolismo. Ela sem entender o que acontecia, nós menos ainda, crescemos neste ambiente de tristeza, luta, dificuldades, sonhos, muitos sonhos. O meu era ser rico, não importava o que fosse, apenas rico, para poder dar de tudo e do melhor para minha mãe, para minha vó Doracilia (que morava conosco - hoje mora no céu). Para isso, buscava nos estudos, nos exercicios e tarefas de aula, na leitura e na escrita de poemas, trancado horas e horas em meu quarto, aprender tudo sobre a vida e como torná-la melhor.
Minha mãe trabalhava para a professora Norma Perini, pessoa dedicada, que amava ser professora, tanto que cada aluno era como se fosse seu filho. Eu era um dos seus prediletos, digo isso porque ela não se cansava de falar isso para minha mãe. Cada elogiu, eu procurava melhorar mais minhas notas, ser ainda melhor, ser o melhor da sala, o melhor da escola, um exemplo para os outros que buscavam estudar.
Terminei o ensino fundamental assim, ou quase, pois estava com quatorze anos, tinha que trabalhar para ajudar em casa e ai fui para a turma da noite, na oitava série.
A vida seguia dura, mas o sonho de minha mãe, de ver um filho formado, um "doutor", era o foco, e eu não poderia decepcionar. Trabalhava duro o dia todo e ia direto para a aula.
Meus irmãos já estavam no ensino médio e com eles aos 15 anos em 1985 ingressei no técnico em contabilidade da CNEC, escola particular, mas como bolsista.
Surgiu uma oportunidade de ouro. Conhecer o mundo, aprender nas melhores escolas, formar-se padre, ser alguém, e dar orgulho aos meus pais, minha familia. Fiz um anos de seminário (1986), um dos mais longos anos de minha vida. Longe de casa, sem o chimarrão da manhã com a vó, sem o afago da mãe ao dormir, me pus a escrever mais poemas (guardo-os até hoje); conheci a política e militei muito para que o Brasil fosse democrático, de todos para todos; era um exemplo de aluno, chega ter o apelido de santo entre os demais seminaristas, mas a vida não era fácil, quem não tinha condições de pagar, os padres mandavam ficar em casa no final do ano, e como outros, fui aconselhado a ir embora, este não seria meu caminho.
Mas que caminho? Nunca havia pensado nisto, meu único sonho era ser alguém e fazer minha mãe feliz.
Depois de um tempo refletindo, passei para a prefeitura (1989) e logo conheci meu amor da minha vida, a Noeli, casamos, veio a Micheli, continuei trabalhando, agora para dar uma vida melhor para minha nova familia. Os sonhos adormecidos, porém jamais esquecidos, não eram mais palpáveis. Estudar era para quem tinha condições. A faculdade era para filho de papaizinho, e definitivamente eu não o era, meu pai estava no fundo do posso e ninguém sabia que o que ele tinha era uma doença que hoje tem tratamento (dependência alcólica).
Aos poucos fomos construindo uma familia, uma casa, nosso cantinho para criar os filhos, dar o melhor que fosse possivel; mas a vida era dura, a inflação corrompia salários, era terrível, o dinheiro acabava e o mês continuava.
Fui em busca de novas oportunidades, para dar um futuro melhor para meus filhos, do que a vida tinha reservado para mim, tinha a clareza que o estudo era a única saída. A Micheli se destacava, filha meiga, linda, querida e estudiosa, era modelo de aluna em sua escola.
Mas a vida continuava a pregar suas peças, tives o segundo filho, Everton, lindo, um anjo, mas tão perfeito em seu jeito, que Deus levou para nos cuidar lá do céu (1995). Passado o trauma da perda, não a lembrança do bebê mais lindo que já vi, voltamos a realidade. Nasceu o Bruno, filho querido, amado, meigo e lindo, em meio a turbilhões de mudanças, como empreendedor nato, mais uma vez empreendia novo negócio, agora no ramo alimentíco, o qual fizemos muito sucesso e durou cerca de dez anos.
Mas a vida era algo a ser desvendado; depois de muita luta, correria de hospital em hospital, de médicos a especialista, descobrimos a doença rara a qual o Bruno tinha nascido e quase teria morrido, não fosse a luta, a perseverça de ir atrás dos recursos existentes e principalmente a fé. Fé em Deus, que sempre nos guiou, ao qual nunca duvidamos, nem mesmo nos piores momentos, quando perdemos o Everton, quando a dor for mortal e até hoje nos deixou sicatrizes, só de lembrar, as lágrimas escorrem pelo rosto. Entendemos o proposito de nosso criador e os sonhos, adormecidos, novamente foram despertados.
Mudamos para Campo Grande MS (2006) para estudar, fazer faculdade pelo PROUNI, com bolsa, e dar condições para que a Micheli e o Bruno um dia pudessem trilhar este caminho.
Me formei em 2009 em ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESA COM ÊNFASE EM COMÉRCIO EXTERIOR, minha esposa em 2010 em pedagogia, profissão que ela ama e tem amado mais a cada dia que passa, tanto que às vezes ficamos até com ciúmes.
Desnecessário dizer, mas mais uma vez a vida pregou uma peça, descobri que o fato de estar formado não era o suficiente para profar ao mundo que aquele menino dedicado, estudioso, responsável, empreendedor, ainda existe aqui dentro de mim. Estou velho para o "mercado", mas vou a luta e descordo total e integralmente dos profissionais de RH, psicologia do trabalho, e profissionais da área, que lançaram este gligê no mundo do trabalho. Sei das minhas habilidades, das minhas capacidades e em busca do meu sonho, vou continuar lutando, vou continuar mostrando aos obstáculos que eles são intranponíveis apenas para quem não quer seguir adianta, apenas para aqueles que não têem sonhos, para os fracos e para esses formadores de gligês. A hora agora é de buscar uma especialização, e neste caminho, nesta estrada, já fiz várias provas, pesquisei infinitos site do assunto, tenho me trancado em mim mesmo e lido, estudado, escrito, sobre o tema.
E sabedor de que esta é só mais uma batalha, busco forças DEUS para estar preparado para as próximas. Assim, acabo de passar na prova para ingressar na PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL pela UEMS - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, e tenho a certeza de concluir mais este grau, muito em breve.
Tenho a certeza que este vai ser UM SONHO A MAIS que realizarei e o qual, se não tiver valia para os RHs, será de muito orgulho para mim, para minha mãe, que lutou muito por isso, e para minha esposa que me apoia e incentiva e meus filhos, neto e genro, que com toda certeza terão melhores oportunidades de irem muito além, trilhando caminhos retos, sendo dedicados e grandes realizadores de SONHOS.